domingo, 28 de setembro de 2014

III


E.
(completamente desorientado)
Para onde foi essa gente toda num (literal) abrir e fechar de olhos?

Ao olhar em volta para tentar detectar vivalma naquele breu nocturno, o ego nada percepcionou além de um veloz vultobranco que lhe atravessara o campo visual sem lhe permititr reconhecer de que criatura se tratava. Ao deslocar a visão em direcção ao palco, o ego conseguiu perceber que a sua atenção tinha sido provocada por o passar de um coelho branco, que, efervescido pela pressa, subia agora rapidamente o palco e desaparecia por detrás do equipamento de som.
Decidiu segui-lo...
Trepou, também ele, o palco. Olhou em volta, por entre os instrumentos... Fora atrás da bateria que encontrara aquela grotesca e inquietante criatura, que, sem dó nem piedade, bebericava a cerveja que, derramada de uma garrafa abandonada (provavelmente pelo percurssionista), formava no chão uma poça amarelada, como que a desfrutar do pecado da desumanização e a consumir a vergonha de constituir a escória do reino-animal (segundo o próprio evangelho social). O desinteresse desse estranho pela presença do humano foi demonstrado nitidamente pela expressão que esboçou no seu corpo asqueroso como resposta instintiva ao factode se ter dado conta de ali ter aterrado uma prestensa companhia: continuou a deliciar-se com a urina dos deuses, ignorando tudo o resto.

E.
Que raio de criatura és tu? Não me digas ter sido tu quem devorou essa gente toda!? Pela sede com que aparentas estar não ficaria admirado que mo confirmasses a suposição.

K.
Eles nunca o foram, como eu não o sou. O que era e o que é mais não são do que construções de ti para ti, de forma a entenderes-te a ti próprio, e para os outros, de forma a despistá-los a eles e, muito provavelmente, a ti-mesmo, pobre humano. Tudo isso é uma completa perda de tempo.

E.
Que resposta sinistra... Achas-te o quê? O animal de estimação do Buda?

K.
O meu mestre é o Presente. É esse o presente máximo: a dádiva eterna.

E.
E se eu te presenteasse com um espezinhamento, como é comum na minha terra fazerem às criaturas repugnantes como tu, que seria do teu "Presente", a tal "dádiva eterna"?

K.
Obviamente, o Presente continuaria a existir. Ele é-O independente de mim, ou de ti, ou de qualquer outro ser - se é que existe multiplicidade de seres. Ele não é um presente que se possa possuir; e é por essa razão que eu o chamo simplesmente "Presente", ao invés de "meu presente" ou "teu presente". Porque o presente contém e transcende a combinação de todos os "presentes individuais" - presentes ilusórios. Na minha ausência, a arealidade continuaris a a existir como o Presente que é, com uma única diferença: sem mim nela incluído.

E.
As tuas ideias são deveras peculiares, mas não posso afirmar que careçam de sentido. Por mais surreal que esta noite esteja a ser, não esperava encontrar um inscto filósofo-místico que me ajudasse a explandir a minha mente.

K.
Quem te vai ajudar a expandir a tua mente não sou eu, és tu!...


O insecto envolveu a totalidade do corpo do ego, conbrindo-o na sua totalidade com um manto negro e alastrando-se pela sua superfício como um cancro devastador... Até que essa possessão terminou com o estancar do movimento do ego num vácuo de inércia, presenteando-o com um negrume tão imenso que ele já não podia ter a certeza se caía ou se flutuava. Momentos depois desse ritual negro, começavam a compor-se as cores que iam pintando o aspecto de uma(s) nova(s) realidade(s).

(...)

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