quinta-feira, 6 de novembro de 2014

VI


...Em busca da luz interior, o nosso ego acabou por se encontrar surpreendido por uma imensidão luminosa, mas esta de origem solar, a atingir-lhe violentamente a cara: apercebera-se que tinha acabado de abrir os tapassóis da sala onde jazia um sofá-cama deveras confortável (quando comparado àquilo a que está habituado um festivaleiro), onde era suposto ter dormido. Ofuscado pelo clarão e desorientado por aquelas transições sombra/luz, noite/dia, alucinação/sobriedade... ele dificilmente conseguia encontrar um encadeamento lógico que lhe servisse para estruturar aquele misterioso episódio da sua vida, ou sequer ter a certeza do dia e das horas que correspondiam àquele momento temporal.
Era este afinal o dia do concerto - veio a saber pelos amigos, que acordaram pouco tempo depois. Ficara estupefacto (tentando não o transparecer). Nada comentou com eles acerca da sua jornada: a mais ninguém era permitido compreender...

Fora tudo apenas um sonho? (Resta a dúvida - que será sempre incógnita...)

(Sobre matéria e espírito parece-me já termos alcançado interessantes conclusões, um assunto por natureza impossibilitado de alguma vez ser dado por concluído. Parece-me  que a grande questão que agora emerge é a seguinte: "Quanto da imaginação é realidade e quanto da realidade é ficção?)

Já no concerto, enquanto se deliciava com a presença da tal banda lusitana - assim como do resto da multidão e da "malta do staff" -, o ego surpreendeu-se quando, ao dar uma vista de olhos pela plateia, reparou em alguém que estava munido com um traje sugestivo ao famoso conto da Alice no País das Maravilhas: era o Coelho Branco.

(apenas) Sorriu, de si para si.


FIM